São Thomé das Letras, sua história e o surgimento da atividade econômica
São Thomé das Letras está situado na Serra das Letras, terreno sedimentar datado da Era Proteozóica há 570 milhões de anos, edificada sobre um largo depósito mineral de quartzito do neoproterozoico.
A lenda que dá origem a toda a história de São Thomé das Letras, aconteceu em uma gruta e está reproduzida abaixo, conforme texto exposto na Casa da Cultura do Município:
“João Antão escravo da Fazenda Campo Alegre, cujo romance com a irmã de seu senhor, o capitão João Francisco Junqueira, havia sido descoberto, cansado dos maus tratos, refugiou-se em uma gruta no alto da serra, onde passou a viver da pesca, frutos e raízes da região. Um dia um senhor de vestes brancas apareceu para o escravo lhe entregando um bilhete e dizendo que, se ele o entregasse ao capitão, este o perdoaria. Ao ler o bilhete, o capitão o ordenou que o levasse até a gruta, onde encontraram uma imagem de São Thomé entalhada em madeira. João Francisco, homem profundamente religioso recolheu a imagem e a levou para casa. A imagem sumiu e reapareceu na gruta por várias vezes. Acreditando ser um milagre, o capitão mandou erguer uma capela no local onde em 1785, foi construída a Igreja Matriz, originando assim o povoado; dizem que o filho do Capitão, Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, título este concedido por Dom Pedro II, foi sepultado debaixo do altar da Igreja.”
É assim que a origem de São Thomé é contada e recontada desde então, cuja tradição oral permanece mesmo que mudem os atores ao longo do tempo. São lendas e mistérios narrados pelo povo e que marcam a formação da cidade.
Tais elementos são tão fortes, que hoje se encontram escritos em artigos oficiais do município, folhetos e cartazes que dão as boas vindas aos turistas e é com esta visão, além das pedras que ganharam destaque como “Pedras São Thomé”, que a cidade é conhecida.
Outro ponto de destaque na história de São Thomé das Letras é a identidade formada em torno da mineração das pedras de quartzito.
Consta que a atividade extrativa local de quartzitos foliados teve início de 1869, em uma área pertencente ao patrimônio da Igreja e situada contiguamente ao povoado. Não obstante, os quartzitos foliados aflorantes na Serra de São Thomé foram utilizados para a construção de moradias e da própria Igreja Matriz, desde o século anterior (FEAM, 2009, p.25). As pedras foram amplamente utilizadas na arquitetura da cidade, não só nas paredes das casas e igrejas, mas também como piso, portais, telhado, e até mesmo como peça de mobiliário, como prateleiras, mesas e bancos. Os terrenos do povoado também eram cercados com muros de pedra
Histórico da Indústria da Pedra São Thomé
Década de 1940, inicia-se a chamada “indústria da pedra” no alto da serra de São Thomé das Letras. A área denominada “Patrimônio”, que estava sob a tutela da igreja católica, administrada pela Mitra Diocesana de Campanha, foi arrendada para o engenheiro Jesiel Siqueira Luz, em contrato por 20 anos.
No final da década de 1940, foi criada a empresa Virgílio de Andrade Martins Comércio Ltda. A instalação das empresas Jesiel Siqueira Luz e da empresa Sales Andrade, em São Thomé das Letras, deram início a um “impulso modernizador” na localidade, iniciando a construção de uma infraestrutura de produção, transporte e comércio da atividade mineradora (FEAM, 2009).
Década de 1960, outras empresas chegaram ao município, e o número de trabalhadores empregados na mineração aumentou consideravelmente.
Década de 1970, novas tecnologias foram então implementadas na mineração em São Thomé das Letras, tais como: o uso de explosivos, de compressores hidráulicos na perfuração das minas, de tratores-pás-carregadeiras e os caminhões basculantes utilizados para “limpeza” das áreas de exploração, aumentando consideravelmente a produção, o que também intensificou a produção do espaço sob a lógica de reprodução capitalista e hierarquizou as relações de produção.
Década de 1990, tanto o turismo quanto a mineração haviam se consolidado como atividades econômicas no município.
Anos 2000
A “indústria da pedra” estabeleceu uma cadeia de produção, não só no município de São Thomé das Letras, mas também nos municípios vizinhos.
Para extração, visando a aumentar a produção, novas tecnologias foram incorporadas e mais trabalhadores foram recrutados, acelerando a exploração, ocasionado a expansão da mineração sobre novas áreas.
Ao acompanhar a história do município de São Thomé das Letras, acompanhamos a história e a construção da identidade e tradição do trabalho minerador que se formou na sucessão de gerações de produtores e extratores, comerciantes e trabalhadores das minas de pedras, e que continuará dando à cidade de São Thomé das Letras o reconhecimento do seu nome neste produto local.
Percebe-se que a história relacionada ao local geográfico de onde os quartzitos se originam e ao espaço cultural onde a vida da sua gente se desenvolve, é forte, sólido e funciona dando sentido de identidade e marco referencial à população.
Mesmo que seja impactada ao receber novas tecnologias e inovações, a tradição passada através do trabalho ao longo do tempo continuará em sua essência. Ela será atualizada pelas mudanças, inovações tecnológicas e as novas práticas adotadas, porém as trocas sociais continuarão presentes na vivência e nas relações de trabalho no futuro.